domingo, 19 de dezembro de 2010

Mundos em palavras | Parte - I

Por que nos sonhos, entramos num mundo inteiramente nosso - Alvo Dumbledore


Havia muitas estantes, muitas mais que se possa imaginar. Em cada uma, uma quantidade incontável de livros. Era um lugar imenso, corredores se estendiam infinitamente. Tantos livros quanto um coração solitário pudesse desejar eram encontrados ali. Havia também algumas mesas num vão, antes das estantes. O piso fora cuidadosamente lustrado e brilhava sob a agradável luz que vinha de indefiníveis janelas no alto. O teto era escuro, talvez fosse o céu, mas não havia estrelas e nem lua, apenas uma imensidão sem vida.

O lugar cheirava à fantasia.

Surge então um intruso em tal cenário. Um corpo cansado a procura de sua alma perdida. Descalço, mas incapaz de sentir o frio do piso, caminhava lentamente entre as estantes. Apenas passando o olho por cada capa. Lendo suas gravuras. Não havia títulos, só um imenso mundo a ser descoberto em cada obra cujos autores e respectivas vidas eram desconhecidos.

Era um lugar para a Solidão.

Eis que um livro de capa verde surrada lhe chama atenção. Retira-o da prateleira mas antes que possa ler uma linha, é surpreendido pela figura de uma garota vinda de lugar nenhum, assim como ele.

A solidão total é uma mentira.

A garota vestia uma fina camisola branca, tinha os pés descalços, belos e longos cabelos negros soltos. Uma descrição mais aprofundada seria desnecessária, era de beleza definitiva.

Ela pegou então um livro, era de capa vermelha, admirou por longos minutos as gravuras dos dois lados e recolocou-o em seu lugar, com uma expressão de medo. Caminhou mais alguns passos, e pegou outro, esse tinha uma capa marrom. Abriu-o e começou sua leitura ali mesmo, em frente à prateleira. Nesse instante, algo extraordinário aconteceu: a bela garota simplesmente foi puxada pelo livro, e este por sua vez, retornou por conta ao seu lugar.

Então ele compreendeu.

A fantasia alivia a alma surrada pela realidade.

Caminhou lentamente tomando o cuidado de manter a vista naquele mesmo livro de capa marrom. Pegou-o com certo receio e avaliou a capa. A figura mostrava uma torre, alta e imponente. Observando com atenção notou que se tratava na verdade de um farol, numa pequena ilha ao mar. Sem mais nenhuma hesitação, abriu-o e se pôs a ler.

Era uma vez, um velho farol isolado numa ilha no meio do mar...

De inicio, nada ocorreu, mas passados alguns segundos foi tomado por uma estranha sensação de não ser ninguém... não ser nada.

Nesse mesmo farol vivia uma bela jovem...

A sensação passou a um misto de medo e incerteza, mas que logo o abandonou, e deu lugar a uma nova realidade. De repente não pode mais ler. Não havia mais livro.

Viu-se sozinho, frente a uma torre que se estendia ao céu escuro. Dela partia uma luz, que lentamente fazia uma volta completa. isso era feito de forma irregular, de forma humana, variando a cada volta. Havia também uma única porta feita de madeira. Foi por ali que decidiu entrar.

Não havia muita coisa pra ser descrita ali, apenas uma escada circular que levava ao topo do farol. Subiu a mesma às pressas ansiando por ver a imensidão do mar sem saber exatamente por que.

Quando alcançou o topo, se viu surpreendido. A bela jovem que desaparecera no livro estava ali, era ela quem girava a luz do farol, porém estava notavelmente cansada. Parou o trabalho ao vê-lo, contemplou-o por uns segundos e retomou sua tarefa.

Foi diante dessa cena que o coração do garoto experimentou mil sensações. A principio apiedou-se, depois admirou a força de vontade e muitos outros sentimentos se mostraram e foram-se deixando uma duvida.

Por quê?

Afinal, essa é sempre a grande pergunta geralmente sem resposta. Por quê?

A jovem estava claramente cansada, mas o que podia ser feito? Como livrá-la da sina? Tais duvidas obviamente só poderiam ser respondidas de uma única forma. Atos.

Então o rapaz ajudou a manejar a luz. Era realmente um trabalho árduo, pesado, e nauseante. A luz projetava-se longe sem uma distância definida. Não se olhavam, apenas trabalhavam num ritmo preciso e harmônico. Como se já conhecessem um ao outro. Suas dores e angustias.

Então surge um imenso navio que veleja lentamente em direção ao farol. Em poucos minutos um marinheiro já remava num pequeno bote para o resgate. A garota desce correndo as escadas e ele a segue. Entendeu que a estória estava completa. Esperou com os pés mergulhados na gelada água do imenso mar, que agora parecia dizer adeus.

Assim foram resgatados, sem nenhuma palavra, cada um já sabia seu papel ali. Logo estavam a bordo do navio, que os levou pra onde quer que tivessem de ir.

A sensação de vazio lhe leva de volta.

...E foram felizes para sempre. De repente se viu terminando a leitura.

Estava outra vez na biblioteca e mais uma vez o corpo feminino era sua silenciosa companhia. Que já se punha procurar outro livro deixando a estranha sensação de que faria isso pra todo o sempre.

Autor:
Vinicius Maboni.

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