À medida que os feixes de luz, vindouros de refletores posicionados equidistantes no decorrer do viaduto formavam ritmadas corridas de luz por sua perna, o garoto devaneava sobre recorrentes situações que ocorrem e ocorreram outrora. Castelos padronizados e mentirosos eram edificados a partir da luz que se remodelava após a inevitável vertigem, transe?
Todas as vezes em que ele tentara encaixar-se aos padrões, haviam falhado. Como se houvesse algo diferente, não no mundo, mas nele mesmo. Pensando, algumas vezes, já se questionara até das cores que imaginara ter definido corretamente. Quem, pois, garantiria que não apenas ele vê o amarelo como azul? Não em perspectiva patológica, como daltonismo, mas em questões intrínsecas.
Tais padrões, traziam-no um incômodo demasiado a ponto de, então, passar a sentir-se como um escorpião pronto para apunhalar-se quando tudo o que restasse fosse entediante, igual, de mesma cor, mesmo gosto, mesma atitude, mesmo sentimento egoísta, mesmo cortar de asas de sempre, mesma prepotência recorrente, mesmos crimes meta-humanos sem precedentes. Ao menos, o que correria a partir de então em seu sangue e fim de vida seria seu. Seria verdadeiro. A menos que ele mesmo fosse uma mentira para si próprio.
Desistir de esperar? Continuar pra ver o que muda? A curiosidade tornara-se de dois, apenas um: melhor amigo ou maior inimigo? Definir isso, por um momento não importava, afinal, certo dia, o destino lhe prometera mostrar quando não valeria mais a pena. Bastava, pois, a comunicação com a alma do mundo para que o próprio universo respondesse a questões externas, nunca internas, por tratar-se de um novo (outro) universo, nunca desvendado por ele.
Do lado de fora daquela loucura, o garoto, o homem, o idoso ou qualquer que seja a denominação que lhe fora adjetivada pelo decorrer de alguns poucos anos, sofria de um ataque cardíaco. Todos do veículo público atentaram para o problema e tentaram socorrê-lo, que caia lentamente através do corredor metálico. O que eles não sabiam é que ninguém externo poderia salvá-lo, e que seus conceitos padrões de salvação poderiam não ser o melhor para o dado impasse.
Correndo, descontrolado e vigoroso contra o tempo que, em contrapartida parecia estar demasiado lento, sentira-se contraditório. Pelo que estava a correr? Havia mesmo algum motivo para célere tentativa? Afinal, o que havia para tentar????
Chegando, finalmente, com o suor recobrindo toda a tez, viu na corrente rompida, marcas que o remetera alguns trechos do que havia chamado "vida pessoal". Mas o que significava toda aquela ornamentação? Sequer haviam hipóteses, não obstante decidiu erguê-las e uni-las, tentando encontrar sentido em uma única imagem desconhecida que havia exatamente no ponto de ruptura da corrente em suas mãos.
Ao unir as duas partes, em devaneio, ele encontrara o sentido de toda aquela desordem que o rodeara por anos. Em realidade, estava morto nas mãos de um paramédico. Goste você disso ou não!
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