Os olhos de cor cálida parecem reluzir cintilantes, um brilho tal qual nunca fora visto em pedra preciosa alguma! Estes mesmos olhos contemplam o torpor, o tormento, a dor e o detrimento de espíritos confusos que choram, clamam, rangem os dentes e suplicam por uma salvação. Os olhos das sombras os observam e como que numa voz de trovão, ecoa pelo vácuo tortuoso a frase: "Haec vostra vita post mortem est! Dolor, timor torporque. Viam salvationis non habet!" (Esta é a vossa vida após a morte! Dor, temor e torpor. Não há via de salvação!)
A escuridão não estava fazendo nada além do seu dever. Estes homens não foram bons em suas vidas, e por isso no "post mortem" estão sofrendo tanto, expiando seus erros. O inferno, tártaro, sheol ou qualquer denominação que receba, não é como rezam os mitos. Esta dimensão densa e obscura é muito pior! Não há fogo, mas há dores excruciantes, e um vácuo atemporal onde nem o mais alto urro pode ser ouvido... Ainda que pudesse ser ouvido... Quem ajudaria?!
Eis então que no meio do lamaçal, dos pobres espíritos deitados em paralisia por causa das dores, permaneciam de pé apenas os carnífices, e inclusive estes se ajoelharam perante à súbita presença de uma força que parecia os comprimir contra o chão. Esta presença era familiar, se tratava do que possuía o título de "Imperator Abyssorum" (Imperador dos Abismos). Todos sabiam o seu nome, mas não ousavam pronunciá-lo, pois uma dor tremenda acometia quem o fizesse... Muitos tentaram. Este mestre obscuro de porte leve flutuava por sobre a lama e a terra infértil, sobre os aparentes cadáveres que eram apenas espíritos sem a consciência de que já estavam mortos. Os olhos são familiares... Sim! São os olhos cálidos os quais contemplavam o horror daquela dimensão.
0 comentários:
Postar um comentário